Sangue, violência e a indústria de games

jogos violentos são motivo de polêmica e aterrorizam pais e mães ao redor do mundo, que observam, atônitos, seus queridos filhinhos arrancando cabeças, esquartejando e estripando dezenas, senão centenas de outras pessoas. Mesmo não alcançando o nível de polêmica que uma única cena de sexo pode criar, o sangue que rotineiramente esguicha para todos os lados na maior parte dos games modernos é uma questão impossível de ser ignorada.


De uma maneira ou de outra, uma certeza permanece: a maior parte dos jogos modernos não seria tão violenta se não houvesse algum tipo de apelo nisto, algo que faz jogadores se interessarem por sangue e tripas para todos os lados. Esta é uma questão complexa e profunda, que provavelmente envolve aspectos sociológicos e psicológicos de várias maneiras. Mas isso não é interessante. O que realmente interessa é ver o sangue espirrando.
Provavelmente, um dos primeiros jogos a realmente causar algum tipo de controvérsia a respeito da violência, particularmente devido à representação de sangue sendo retirado na base da pancadaria de imagens de atores reais, foi o célebre Mortal Kombat. O jogo ficou imortalizado por trazer para o público em geral uma quantidade revolucionária de sangue, como nunca antes havia sido visto. Quando o referencial de jogos de luta era o relativamente comportado Street Fighter, a ousadia de Mortal Kombat foi decisiva para dar uma nova orientação à indústria de games.
O clássico DOOM, que quebrou barreiras no que diz respeito à violência.Abominável mundo novo
Esse novo mundo de sangue e tripas que se abria para os desenvolvedores de jogos logo se tornaria um padrão básico para a esmagadora maioria dos games modernos, sobretudo nos gêneros que tradicionalmente envolvem mais ação. Em 1994, foi lançado o lendário game DOOM. Toda a violência que era vista “pelo lado de fora” em jogos que adotavam uma perspectiva em terceira pessoa era passada para a primeira pessoa.
Isso foi uma revolução sem precedentes, praticamente criando na visão popular um novo gênero: o First Person Shooter. Este é, provavelmente, o estilo de jogo mais tradicionalmente violento, por colocar o jogador como o protagonista direto, com uma arma possante em suas mãos virtuais, caçando seres humanos ou criaturas alienígenas. Que também sangram copiosamente. Mas quem acreditava que não era possível piorar, se enganou.
O sangue escorreu para outros gêneros e, em 1997, os jogos de corrida ganharam um lado violento com o primeiro título da célebre série Carmageddon. O jogo marcou época por ser extremamente violento e perverso: o jogador ganhava pontos de bônus ao atropelar pessoas, incluindo velhinhas inofensivas, e ao esmigalhar por completo os carros dos oponentes. Foi um game incrivelmente infame, banido em dezenas de países ao redor do mundo. Várias versões “censuradas” foram lançadas, que substituíam os pobres pedestres por zumbis com sangue verde ou robôs




Ao mesmo tempo, outros jogos também começavam a encarar outros tabus, além do sangue e da violência. A famosa série GTA deu ao jogador, além da possibilidade de matar centenas de pessoas, permissão para roubar tudo que se movia sobre rodas. A passagem para o mundo das três dimensões, com o terceiro título da série, marcou um aumento na polêmica, pois tornava mais real e imediata a violência da franquia.
Porém, a Rockstar, produtora da série GTA, não se satisfez com o nível de depravação que tinha alcançado com a infame franquia. Com o game Manhunt, a violência mudou de mundo: o que antes era colocado num contexto criminoso ou fantástico se tornou um subproduto de uma psicopatia generalizada. Praticamente todos os personagens do jogo eram assassinos psicóticos, e os produtores faziam questão de não restringir a exibição de cenas grotescas, e até mesmo recompensar o jogador conforme a violência das suas ações.
Violência pós-apocalíptica
Outra franquia que sobrevive à passagem do tempo e que mantém o sangue espirrando conforme o tempo passa é a série de games Fallout. O primeiro título, lançado em 1997, iniciou uma tradição violenta que representava o inóspito e hostil ambiente pós-apocalíptico no qual se ambientava. Bandidos, mutantes e outros sobreviventes disputavam violentamente os escassos recursos de um mundo completamente devastado por um holocausto nuclear, e o resultado é um dos games mais sanguinários e, além disso, psicologicamente violentos de todos os tempos.
Um exemplo do nível de violência de Fallout 3.O terceiro game da série, Fallout 3, transporta para uma perspectiva em primeira pessoa a agressividade de seus dois antecessores, sem reduzir o volume de sangue que é espirrado para todos os lados. Além disso, todos os jogos principais da franquia Fallout apresentam uma habilidade especial para o personagem principal, chamada “Bloody Mess” (“Bagunça Sangrenta”), que garante que todos os inimigos morram da maneira mais violenta possível.
Então fica a dúvida: o que torna o sangue nos jogos algo tão atraente e interessante para a maior parte dos jogadores? Essa é uma questão complicada, que envolve diversos aspectos sociais e pessoais, e que é assunto para um debate mais profundo. Mas, em vez de continuar questionando esse fato, aproveite que hoje é o Dia da Doação de Sangue, faça sua doação, e depois aproveite o embalo para fazer o sangue escorrer nos seus jogos favoritos!

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